sexta-feira, 5 de março de 2010

A Interpretação dos Sonhos

Publicada em 4 de Novembro de 1899 (por uma decisão do editor, no entanto, a data impressa é a de 1900) A Interpretação dos Sonhos porá a descoberto a vida psíquica inconsciente. Com essa obra Freud inaugurou uma nova concepção do homem.


Não terá sido em vão que Paul Ricœur, um dos grandes filósofos do século XX, recentemente desaparecido, chamou a Freud, a par de Nietzsche e de Marx, “mestre da suspeita”, aludindo ao seu contributo para o debate em torno da racionalidade, do conhecimento e dos seus fundamentos, da crítica da consciência mediada por uma psicanálise do inconsciente.


Fundador da Psicanálise, simultaneamente uma teoria sobre o psiquismo, um método de investigação e uma terapêutica, Freud deixou, igualmente, um importante legado filosófico. A sua concepção da mente humana, nomeadamente a dialéctica entre a vida consciente e as pulsões do inconsciente, levaram à reflexão sobre o Eu e a subjectividade, a racionalidade, o livre arbítrio e o determinismo, a Ética, a Religião.


Jorge Molder “A Interpretação dos Sonhos” CAMJAP-FCG



Em A Interpretação dos Sonhos, Freud problematizou a natureza do sonho e admitiu a possibilidade de demonstrar o seu sentido, bem como o modo de o revelar. Na sua obra procurou responder a uma série completa de questões: há um motivo para a formação do sonho? Em que condições ele se realiza? Por que vias os pensamentos latentes do sonho, sempre plenos de sentido, são levados ao sonho tantas vezes insensato?

Jorge Molder “A Interpretação dos Sonhos” CAMJAP-FCG

Na verdade, foi a primeira pessoa a falar dos sonhos como uma expressão do inconsciente, no sentido em que são uma espécie de via-rápida de acesso a essa mesma expressão, o que justificaria a proposição “o sonho é a manifestação velada de um desejo” [recalcado].


Podemos controlar uma parte consciente do nosso pensamento, quando fazemos afirmações do género "eu quero ser bom aluno", ou "proponho-me estudar muito", mas quando dormimos a nossa consciência é mínima e, portanto, não temos a capacidade de escolher o nosso sonho. «A condição psíquica fundamental do sono é a concentração do eu no desejo do sono, o que implica a retirada dos bloqueios de todos os outros interesses da vida; como simultaneamente estão vedadas as vias que levam à motilidade. A aspiração inconsciente aproveita-se do relaxamento nocturno do recalcamento para irromper com o sonho na consciência.» (S. Freud. (1925). Ma vie et la Psychanalyse)



Pierre Puvis de Chavannes “O Sonho”

Diminuído o esforço com o qual mantém o recalcamento, o sonho exprime, num plano imaginário os processos de natureza inconsciente de um desejo mas, também, tal como Freud viria a teorizar mais tarde (ao analisar casos da vida quotidiana e sobretudo os traumatizados de guerra) a expressão inconsciente de conflitos ou de ansiedades manifestas.


Segundo Freud, o sonho enquanto via de acesso privilegiada ao inconsciente, a par da associação livre de ideias, pode ser entendido como um sintoma neurótico, resultado do compromisso entre o recalcamento e a nossa resistência à censura do Eu. Desse modo, exige uma interpretação e, enquanto auxiliar para compreendermos o que se passa na nossa vida psíquica pode ajudar-nos a libertar dos sintomas referidos e, através do processo analítico, levar-nos à cura, isto é, resolvermos alguns conflitos e encontrarmos alternativas que nos permitam poder tolerar e conviver com alguma dose de sofrimento dentro de nós ou até conseguirmos alterar a memória de certos factos da nossa vida.

A obra de Freud e, particularmente, A Interpretação dos Sonhos revolucionou a história do pensamento, repercutindo-se até hoje nas ciências, nas artes e na cultura. Constantemente revisitada, a obra de Freud, reverbera na linguagem comum, na literatura, nas manifestações artísticas. Os conceitos psicanalíticos, desde o conteúdo latente e manifesto do sonho, ao recalcamento, à catarse, ao complexo de Édipo ou à censura do Super-Ego, são hoje indissociáveis da cultura ocidental e mesmo aqueles que os rejeitam e combatem o seu autor reconhecem o seu enorme contributo para a compreensão do psiquismo.


 
Divã de Freud – Museu Freud – Londres


Margarethe Walter

Freud é um autor a quem se regressa. Recentemente, a propósito dos 150 anos do seu nascimento, a escultora Margarethe Walter de 89 anos, sua última paciente, confessou numa entrevista ao jornal Die Zeit: "Sigmund Freud foi a única pessoa que verdadeiramente me escutou […] Freud é a chave da minha vida. […] Abriu em mim uma porta que ninguém tinha querido abrir antes”, sublinhando ter "saboreado tudo" o que Freud lhe transmitiu. " Essa fonte de alimentação da alma nunca se esgotou em 70 anos. Salvou-me a vida." Freud terá proferido as seguintes palavras mágicas quando ela era ainda adolescente: "Para se chegar a adulto é preciso atender aos desejos, alimentar a contradição, colocar a questão do 'porquê', não aceitar tudo em silêncio."

 
Uma iniciativa no âmbito do Projecto "O Bibliófilo" colaboração da professora Manuela Arriaga

2 comentários:

Sara Costa disse...

Desculpe estar a chatear "stora", mas eu e o meu grupo: Cátia Louro, Joana e Luís, não conseguimos encontrar resposta à pergunta 3.2 da ficha nº9, se pudesse dar uma dica, agradecíamos porque só nos falta essa e já procurámos tudo o que é site da acnur e não encontramos nada...

Obrigada pela atenção,
Bom fim-de-semana!

Sara Costa disse...

Já agora parecia mal vir aqui e não fazer um comentário de jeito...XD

Tive que ler o post depois da solicitação de ajuda para a resolução da ficha...e de facto o nosso inconsciente é muito mais valorizado hoje do que antes de nos termos preocupado com a sua verdadeira função e utilização.
Aliás, tive mesmo de ler o post porque interessou-me logo, eu gosto destas coisas da psicanálise e do paranormal o que há para além do físico, é fixe! (pelo menos para mim), ehehe...

Mais uma vez bom fim-de-semana "stora".